Sobre leptospirose e informação: ampliando os conceitos de negligência em saúde
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Resumo
Quando se utiliza a denominação “negligência” em saúde infere-se que não faltem recursos financeiros para lidar com determinadas doenças ou que existam tratamentos disponíveis, mas que são doenças ignoradas apesar de representarem um potencial risco ou um dano já instalado à saúde pública. O negligenciamento de uma doença possui um duplo significado. O primeiro faz menção ao discurso clássico da negligência decorrente da falta de ação dos atores centrais da saúde pública: indústria farmacêutica, governo e sistema de saúde. Já o segundo, em intrincado e concomitante arranjo, diz respeito ao negligenciamento das populações correlacionadas à pobreza, desenvolvendo um círculo vicioso que acorrenta, pelo menos, um bilhão de pessoas em todo o planeta, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta identifica apenas 17 doenças denominadas “negligenciadas” e que afetam populações de maior vulnerabilidade econômica e social, apesar de não incluir a leptospirose — uma zoonose emergente, endêmica e de incidência global. Tomando por proposta a ampliação do conceito de negligência em saúde, discute-se neste artigo o rompimento com o modelo hegemônico, levando-se em consideração o quanto desassistida seria a leptospirose como a antropozoonose de maior incidência mundial e com uma letalidade elevada em áreas de menor aporte econômico do planeta, apesar de não reconhecida em todo o seu potencial zoonótico por falta de dados confiáveis de carga de doença em populações humanas e animais.
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